OpenStreetMap

Reproduzo um trecho de conversa que tive com um amigo sobre o que é o OpenStreetMap.

Essencialmente, o OpenStreetMap é um banco de dados de elementos geométricos (pontos, segmentos de reta, poligonais e polígonos) georreferenciados e elementos lógicos (relações) que representam elementos do mundo real (estradas, rios, construções, pontos de interesse, etc.). As características desses, são atribuídas àqueles elementos por meio de pares chave=valor. Por exemplo, para representar um rio, se usa uma poligonal para representar seu leito e aplica-se o par waterway=river.

Esse banco de dados é licenciado utilizando a Open Database License (ODbL). Porque essa licença? Bem, é uma licença especifica para banco de dados que garante, às pessoas, as liberdades de usar, modificar e compartilhar o banco de dados desde de que mantenham essas liberdades. Repare nessa condição, ela perpetua as liberdades. Essa é a essência do copyleft! Então, a ODbL é uma licença copyleft. Porque isso é importante? Não existe um mágico que tira da cartola um banco de dados com informações do mundo inteiro com uma licença assim, ele precisa ser construído. E como é construído? De maneira colaborativa, num grande bazar (lembra de “A Catedral e o Bazar”?) à semelhança da Wikipédia e do software livre. E para ser construído colaborativamente, são fundamentais essas liberdades. Para modificar, ou só usá-lo, alguém tem que ter compartilhado com você, e não seria justo, com aqueles que contribuíram com a copia compartilhada, se você pudesse restringir essas liberdades ao compartilhar a cópia que obteve ou suas modificações e, geraria incertezas sobre a perenidade da disponibilidade desse banco de dados. Você usufruiu, as outras pessoas também devem usufruir dessas liberdades.

E de onde veem as informações para esse banco de dados? São coletadas em campo, por exemplo, em placas que informam o nome de ruas (e algumas, também, CEP e numeração de lotes), de tracklogs de sistemas de posicionamento, de imagens de satélite, de ortofotos, de leis, etc. Podem ser obtidas, também, de órgãos públicos, de empresas ou qualquer outra fonte com licença compatível com a ODbL. Por exemplo, a Microsoft disponibiliza imagens de satélite para auxiliar o projeto. É importante ressaltar que não se pode usar informações do GoogleMaps, GoogleEarth, mapas impressos, outras fontes comerciais e qualquer fonte que não explicite sua licença. Mas a informação está ali, porque não copiar? Usando informações com licenças incompatíveis, você restringe as liberdades, e pior, contamina qualquer outra modificação feita sobre essas. Com isso, não está ajudando mas, prejudicando o projeto. E expondo-o a riscos de processos judiciais. Pegue o exemplo do rio. Se você obteve a poligonal sobre uma imagem de satélite do google, essa geometria terá que ser removida. Mas e se outra pessoa já tivesse adicionado o nome desse rio usando o par name=Rio Jacuí? O nome é removido junto com a poligonal.

Pragmaticamente, isso tudo produz informações melhores? Bem, a realidade é dinâmica. Empresas comerciais com desenvolvimento no estilo catedral, dificilmente conseguem acompanhar esse dinamismo. Além disso, não se preocupam com o usuário das informações, ao introduzir erros propositais em seus dados. Já imaginou o efeito, na vida das pessoas, de uma informação errada? Dois nomes de ruas trocados de lugar, propositalmente, podem, por exemplo, atrasar um atendimento de emergência… Não da para responder, simplesmente, com um “sim!” essa pergunta. Onde existem pessoas contribuindo, usando, e mantendo as informações, no mínimo, são mais confiáveis. Além de poderem ser utilizadas onde quiser sem as limitações impostas pelas empresas comerciais.

Discussion

Comment from santamariense on 17 December 2016 at 03:05

Texto digno de um “copyleft” para sites de notícias; também muito útil para melhor definir o que é o OSM no seu artigo na Wikipédia,… :)   Uma bela prosa, quase uma poesia…

Comment from ivaldonm on 17 December 2016 at 09:59

Não me aprofundei nas restrições de uso de dados relativos aos mapas impressos, que você cita. Qual seria a restrição de uso desse tipo de mapa? Por exemplo, um mapa obtido junto a prefeitura da minha cidade, atualizado e com informações sobre o meu bairro, qual a restrição de uso nesse caso?

Comment from santamariense on 17 December 2016 at 16:09

@ivaldonm, de modo geral, tudo o que não tem licença explicitada tem “todos os direitos reservados”, o ideal seria sempre fazer um documento pra prefeitura pedindo a autorização para o uso. Pelo o que eu tenho observado, eles não tão nem ai que se copie os dados, porque geralmente o que é “secreto” eles não deixam online para qualquer um ver. As vezes é preciso analisar se a prefeitura não teria desenhado sobre imagens do Google, por exemplo, que daí não poderíamos importar para o OSM neste caso (e provavelmente nem eles tiveram autorização para isso :)).

Comment from ivaldonm on 18 December 2016 at 00:46

@santamarinense… acho que o termo “mapa impresso”, o fato de não poder utilizá-lo, é muito subjetivo e deveria ser mais específico. Sabemos que um mapa municipal, público por essência, não tem copyright ou outro tipo de direito autoral. Claro que foi feito por um engenheiro, e tudo mais, mas não deixa de ser público. Se a prefeitura o disponibiliza no seu site, está evidenciando sua publicidade.

Outro ponto também é que as vezes subestimamos a capacidade técnica de recursos das prefeituras, achando que todo mundo é dependente da imagem do google. Dá uma olhada nessa imagem aérea de Brasília, que com certeza não é do google.

Então eu acho que essa “proibição” de utilização de mapas impressos é muito vaga e precisaria ser mais detalhada.

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