State of the Map – SOTM Latam 2024: Uma jornada de resiliência e colaboração em Belém
Posted by tatipara on 30 December 2024 in Brazilian Portuguese (Português do Brasil).Meu primeiro State of the Map LatAm presencial aconteceu de forma especial: em casa, na minha querida Belém-PA. Este evento foi muito mais do que um marco profissional; foi uma experiência profundamente pessoal, que celebrou uma história de resiliência e construção colaborativa que perpassa o ato de mapear.
Tudo começou em Montevidéu, no evento Abrelatam de 2023, quando Juan compartilhou comigo a ideia de trazer o SOTM LatAm para a Amazônia. Desde então, foi quase um ano de preparação para realizar o primeiro evento desse porte na região, vinculado ao FOSS4G 2024, que também tive a honra de coordenar. Mais do que uma conquista, foi uma oportunidade de estar envolvida em todas as etapas do processo: do lançamento da proposta à escolha da data, local e identidade visual.
Essa jornada não foi isenta de desafios. Quem acompanhou de perto sabe dos percalços, como as mudanças de data e local. No entanto, graças a uma equipe comprometida e apaixonada, tudo deu certo. Aconteceu no Palacete Pinho, em apoio da SEMEC de Belém e da dona Oneide, querida coordenadora que cedeu esse espaço incrível para o evento, minha gratidão , que também vai ao Juan, Celine, Giovana, Andres Gomez, Kauê de Moraes, Vitor George, Rodrigo Smarzaro, Selene Yang, Juan Ángel, Sebastian Bravo, Matheus Correia e Mila. Juntos, construímos um evento inclusivo e diverso, que refletiu o que a América Latina representa: a resiliência em construir um mundo melhor.
Apesar de não ser a maior mapeadora da plataforma OpenStreetMap, sinto que cumpro um papel importante na comunidade: engajar pessoas, captar apoios, oferecer treinamento e, sobretudo, valorizar os mapeadores. Durante minha vida de mapeadora, tive a alegria de apoiar a maior mapeadora do Norte – uma talentosa aluna do IFPA – e de mostrar ao mundo o que o Norte tem de melhor: nossa hospitalidade, música, culinária e senso de colaboração.
O SOTM LatAm 2024 não foi apenas um evento; foi a concretização de um sonho coletivo. Ele mostrou que a Amazônia, com suas especificidades e desafios, é o lugar certo para celebrar a colaboração e a inovação. Este marco reafirma que, juntos, podemos construir algo grandioso, transformador e profundamente humano.
Receber o mundo em casa, na minha amada Belém, foi uma experiência transformadora. Este evento me fez refletir sobre o poder da colaboração, que é capaz de “mover montanhas”. Afinal, deslocar-se para Belém não é simples, mesmo estando geograficamente no meio do mundo. Fiquei encantada com a jornada de Johnattan Rupire e Graeme Herbert, que vieram de barco desde o Peru, navegando e registrando os rios até chegar ao evento. O projeto Big River trouxe ao FOSS4G/SOTM LatAm 2024 um significado especial de conexão e resiliência, e o diário dessa jornada permanece como testemunho desse feito extraordinário.
O evento também foi uma oportunidade única para reencontrar amigos da comunidade OpenStreetMap, como Antonio Caldas, Kauê, Patrícia, Fabíola, Davy Rabelo, Celine, Juan e Salim, além de conhecer pessoalmente grandes nomes do OSM Brasil que, até então, só conhecia virtualmente: Matheus, Aline, Rodrigo, Narcélio, Vitor, Andres, Thierry, Daniele, Iván Gayton, Severin Menard e muitos outros estiveram presentes, embora, na correria, nem sempre fosse possível tirar uma foto ou conversar por mais de três minutos.
A hashtag #MAPEIABELÉM tornou-se realidade com as contribuições de câmeras 360º, aplicativos livres e as mais recentes inovações em mapeamento aberto. Realizar um evento desse porte em Belém, uma cidade urbana no coração da Amazônia, foi a concretização de um sonho. Com orgulho, posso dizer que fizemos acontecer – não apenas para mim, mas para tantos outros que ansiavam por esse momento histórico na Amazônia.
Um dos momentos mais marcantes foi receber em Belém, pela primeira vez, um membro da board da OpenStreetMap Foundation. A presença de Daniele mostrou o quanto a nossa região está sendo valorizada e destacou o papel estratégico do evento. Mais do que isso, reforçou nossa missão de ampliar a participação da comunidade latino-americana nas decisões da OSMF.
E o que dizer das Geochicas? Este evento foi um marco especial: tivemos uma maioria de mulheres envolvidas. Não como provocação, mas como resultado de um trabalho genuíno. Agradeço a Cèline, Selene, Andi e Carmen por estarem ao meu lado neste projeto. Sua liderança inspira outras mulheres a permanecerem nesses espaços, criando um ambiente mais seguro e acolhedor para todas. Projetos como Geomapazonia e Meninas da Geo refletem perfeitamente esse empoderamento feminino no mapeamento colaborativo.
Outro ponto emocionante foi ver o OvertureMaps, que conheci em 2023 ao receber um prêmio em Roterdã, agora em Belém, apresentando melhorias que antes pareciam distantes. Naquele ano, perguntei como seus dados poderiam ajudar a Amazônia, e as respostas ainda eram vagas. Hoje, quase um ano e meio depois, eles trouxeram dados corrigidos e gratuitos, prontos para serem aplicados em nossos projetos.
O SOTM LatAm 2024 foi mais do que um evento; foi uma celebração da colaboração, diversidade e inovação. Ele reafirmou que, mesmo com desafios, é possível construir algo extraordinário quando unimos esforços. Belém se tornou, por alguns dias, o centro de um movimento que não apenas mapeia territórios, mas também transforma realidades e conecta pessoas de todo o mundo.
Entre as muitas experiências inesquecíveis que vivi no State of the Map LatAm 2024, o GeoBeer merece um destaque especial. Nunca festejei tanto e com tanta felicidade. Foi um momento de descontração e celebração diária, em que compartilhei risadas e ideias com pessoas brilhantes e colaborativas de todo o mundo. Das paradas no Nabera, Apoena – minha segunda casa –, passando pela Estação das Docas, o carimbó da Praça do Relógio, até o samba no Boulevard Gastronomia, cada encontro foi único. Houve também algumas pausas estratégicas em casa para beber água (porque ninguém é de ferro!), mas tudo foi absolutamente incrível.
Mesmo com a intensa programação e os desafios da organização, consegui mergulhar no aprendizado. Entre ajustes de última hora e momentos de celebração, fiz questão de assistir a algumas palestras e oficinas que me emocionaram profundamente, inclusive pude palestrar e apresentar os projeto vinculados ao Geomapazônia e ao grupo Meninas da Geo que atuo com os jovens mapeadores de Belém.
Uma das que mais me impactaram foi a sobre o DroneTM, um aplicativo aberto e livre para planejamento de voos com drones, permitindo o uso de outros softwares para equipamentos que antes não o permitiam. Essa inovação amplia significativamente o acesso de comunidades a tecnologias avançadas. Participei da coleta de imagens com drones na comunidade ribeirinha Maria Petronília, em Porto Ceasa – Murucutu, antes do evento. Após o SOTM, levamos o treinamento para processar essas imagens ao IFPA, demonstrando o imenso potencial dos drones no mapeamento de comunidades e no empoderamento por meio da tecnologia aberta.
Outra apresentação que me encantou foi a de Panoramax, o projeto de Street View livre e descentralizado. Séverin Ménard demonstrou, com riqueza de detalhes, como usar a plataforma, e ainda realizou um mapeamento em 360º na nossa Ilha do Combu, atualizando a cartografia local. Foi inspirador e me deixou com muita vontade de continuar esse trabalho aqui em Belém.
Por fim, destaco o ChatMap, uma ferramenta inovadora que transforma conversas do WhatsApp em mapas instantâneos. Emílio Mariscal apresentou essa novidade em primeira mão no SOTM LatAm, com o primeiro treinamento presencial. No final, todos os participantes do evento compartilharam fotos e localizações no grupo do WhatsApp, gerando um mapa virtual em tempo real.
A simplicidade e a beleza dessa iniciativa me emocionaram, mostrando como a tecnologia pode ser usada para unir pessoas e criar registros coletivos. É claro que muitas outras iniciativas incríveis foram representadas neste evento, mostrando o potencial da Amazônia e o impacto de projetos colaborativos. Cada momento e cada contribuição tornaram este SOTM Latam um marco histórico para a nossa região.
Sinto-me profundamente grata e realizada por tudo e por todos que fizeram parte desse evento. Em especial à Andi e Ariel que caminharam juntos comigo nessa jornada de FOSS4G e openstreetmap , assim como a OSGEO que criou essa oportunidade de nos conectar.
Foi mais do que um encontro; foi a consolidação de uma comunidade vibrante e afetiva, pronta para continuar mapeando e transformando o mundo. E é com o coração cheio de alegria que já aguardo Medellín, onde daremos continuidade a essa linda jornada de colaboração e afeto.
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